Saturday, June 19, 2010

EPITAFIO PARA UN COMUNISTA LIBERTARIO: JOSÉ SARAMAGO (1922-2010). Traducción de José Carlos De Nóbrega


Poema à boca fechada
José Saramago
/
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
/
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
/
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
/
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
/
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
/
(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição).
/
Poema a la boca cerrada
José Saramago
/
No diré:
Que el silencio me sofoca y amordaza.
Callado estoy, callado quedaré,
Pues la lengua que hablo es de otra raza.
/
Palabras consumidas se acumulan,
Se represan, cisterna de aguas muertas,
Ácidas amarguras en lodos transformadas,
Vacías de fondo en que hay raíces torcidas.
/
No diré:
Que ni siquiera el esfuerzo de decirlas merecen,
Palabras que no digan cuanto sé
En este retiro en que no me conocen.
/
Ni sólo los impíos se arrastran, ni sólo lamas,
Ni sólo amimales boyan, muertos, miedos,
Hinchados frutos en cachos se entrelazan
En el negro pozo de donde suben dedos.
/
Sólo diré:
Crispadamente recogido y mudo,
Que quien se calla cuando me calle
No podrá morir sin decir todo.
/
(De Los Poemas Posibles, Editorial Caminho, Lisboa, 1981, tercera edición).

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